MOBON: Leigos ampliam sua presença numa Igreja em saída   

“Se aos leigos vem sendo confiada a missão de formar outros leigos, agora essa missão é acrescida da tarefa de produção de subsídios para os cursos.”

 Wilson Augusto Costa Cabral*

A história do MOBON – Movimento da Boa Nova – iniciado pelos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, no contexto da grande reforma eclesial do Concílio Vaticano II, está entrelaçada com a crescente consciência do protagonismo dos leigos no processo da evangelização. Ao contar com a percepção missionária do Pe. Geraldo da Silva Araújo, os irmãos Alípio Jacintho da Costa e João da Silva Resende deram corpo a um trabalho missionário pautado pela evangelização baseada no estudo das Sagradas Escrituras e nos documentos da Igreja.

Um diferencial que do trabalho destes irmãos, posteriormente enriquecido pela presença do Ir. Denilson Mariano da Silva, foi seu trabalho como religiosos leigos em meio aos leigos de diversas localidades, extrapolando desde muito cedo os limites da Diocese de Caratinga-MG, onde o movimento iniciou, para diversas localidades.

 

Leigos missionários formando outros leigos

Alicerçado na formação bíblica nos grupos de reflexão, as novas comunidades necessitavam de uma liderança local que desse sustentação ao trabalho missionário. Diversos cursos de formação foram criados, de acordo com as necessidades de cada região e da Igreja em cada momento, com o objetivo de formar missionários leigos. O material sempre foi cuidadosamente elaborado primando ao mesmo tempo pela qualidade do conteúdo e pela metodologia – inspirada em princípios da pedagogia freiriana, partindo sempre da vivência do cotidiano dos destinatários. Desse modo, a mística da Boa Nova tornava-se algo da experiência do cotidiano, da natureza, do meio em que os leigos, muitas vezes dos interiores do país, já estavam familiarizados. Estes leigos, transformados então em missionários, assumiam a responsabilidade de transmitir o conteúdo e mais, a experiência da mística da Boa Nova a outros leigos na comunidade animando a sua vida missionária, as pastorais e os grupos de reflexão.

Este trabalho atravessou décadas, sua eclesiologia fundada na centralidade missionária dos leigos e em uma mística de comunhão com a Igreja chegou ao novo milênio, ao Pontificado do Papa Francisco. Hoje o Espírito Santo leva o MOBON para experiências novas, desafiado pela Pandemia, a produção de conteúdo, a Evangelização necessitou dos meios digitais. Novos tempos exigem que a participação dos missionários leigos seja ainda mais efetiva, passando pela presença itinerante em comunidades mais distantes – trabalho que nos inícios era realizado pelos irmãos religiosos e chegando até à produção do material.

Muitos missionários leigos, formados nos grupos de reflexão e nos cursos do Movimento Boa Nova já participam da elaboração dos roteiros dos grupos de reflexão, do estudo e da elaboração das chaves de leitura dos textos bíblicos e já se ensaia a elaboração conjunta dos textos-base dos cursos de evangelização. Nas palavras da Andréia, missionária leiga da Paróquia de Espera Feliz, MG: “- Sinto-me muito feliz, porque hoje eu sou o que quando criança eu imaginava, pensando na equipe que preparava os roteiros; ou mesmo via, nos missionários que vinham à nossa Paróquia transmitir os cursos da Boa Nova!”

 

Novas posturas no novo milênio

Sinal dos tempos? Testemunho de uma Igreja em saída? Os leigos intuem as necessidades do cristianismo do novo milênio ainda obscurecidas para muitos que ainda estão presos a uma Igreja fechada, encapsulado em rituais arcaicos, pompas, sinais externos e posturas que nada mais dizem em um momento em que os sinais concretos, a vivência do amor, da fraternidade e da solidariedade são os verdadeiros sinais da evangelização.

Atualmente uma equipe do MOBON, intitulada em um grupo de WhatsApp como “Missionários do Reino”, em sua maioria composta por leigos, com cerca de vinte integrantes, tem dado uma contribuição singular na dinâmica de ação evangelizadora contribuindo para a formação de outros leigos e leigas. Trata-se de uma iniciativa ainda germinal, com um longo caminho a percorrer. Esta equipe começa a auxiliar na produção dos subsídios para os cursos do Mês da Bíblia e Campanha da Fraternidade. A intenção é que com mais mãos, diferentes olhares, realidades distintas, os subsídios possam manter um grau de profundidade no conteúdo, mas consiga prezar uma linguagem acessível, capaz de atingir os leigos e oferecer a eles melhor condição de domínio dos conteúdos tratados.

Com essa iniciativa, visa-se também garantir a continuidade desta dinâmica por meio dos próprios leigos, uma equipe ampliada permite que o trabalho não fique restrito a um ou outro integrante, correndo o risco de descontinuidade ou forte queda na falta destes. Com isso, o MOBON dá mais um salto apostando no efetivo protagonismo dos leigos. Se a eles vem sendo confiada a missão de formar outros leigos, agora essa missão é acrescida da tarefa de produção de subsídios para os cursos.  Bem como da alimentação das novas redes sociais.

Roguemos pois ao Senhor da Messe e do Rebanho, que plenifique a Igreja com vocações de missionários leigos, “com os calos da lida das lavouras dos tempos atuais”, do campo ou da cidade; com “o cheiro do rebanho” que transmita o cuidado, a confiança do ser um de nós, um com a gente, irmãos e irmãs em meio aos demais. Uma Igreja leiga, presença missionária presente em todos os cantos e lugares das periferias e rincões, aonde estão os irmãos que necessitam de sua presença.

 

Wilson é integrante da Equipe de Evangelização do MOBON. É mestre em Exegese Bíblica e Doutor em Ciências da Educação. Trabalha o IFES – Ibatiba-ES.

Confira a matéria na Revista O Lutador

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