CF 2024 AGIR: Alargar a tenda da fraternidade

F/ CNBB

“Conforme a proposta quaresmal, em que nos esforçamos para uma mudança, não só pessoal, mas para transformações comunitárias e sociais, eis algumas pistas para a construção de uma sociedade amiga, humana, justa, fraterna e solidária. Um ensaio que nos permita avançar na linha deste objetivo geral desta CF.”

O objetivo geral da CF 2024 é “DESPERTAR para o valor e a beleza da fraternidade humana, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social, para que, em Jesus Cristo, a paz seja realidade entre todas as pessoas e povos” (TB p.7). Conforme a proposta quaresmal, em que nos esforçamos para uma mudança, não só pessoal, mas para transformações comunitárias e sociais, eis algumas pistas para a construção de uma sociedade amiga, humana, justa, fraterna e solidária. Um ensaio que nos permita avançar na linha deste objetivo geral desta CF.

Mover-se na linha da Amizade Social

O profeta Isaías descreve a esperança que se renova com a volta do Exílio na Babilônia (Isaías 54,1-10). É um tempo de alegria, de recomeço, de reconstrução da vida e das relações, tempo de grande esperança. O profeta compara esse momento com o tempo da travessia do deserto, à espera da Terra prometida, na qual o povo vivia em tendas, tudo era provisório, mas a vida era cheia de esperança. É com esse espírito que abraçamos a CF 2024 e, com esperança, ousamos buscar pistas de ação que concretizem a Amizade Social em nossas famílias, comunidades e localidades onde habitamos e construímos nossa vida.

As tendas são nossos espaços de convivência, que precisam ser alargados, ampliados para proteger aqueles que se encontram fora e não permitir que a amizade fique restrita a alguns poucos familiares e amigos. Supõe nossa abertura interior e nosso empenho cotidiano para incluir os vários excluídos: de afeto, de pão, de moradia, de emprego, de dignidade humana e social. Alargar as tendas implica fincar as estacas para além de nosso terreno religioso, avançar no campo social e político. Ser uma Igreja em “saída missionária para as periferias”, na qual a nossa fé, nossa espiritualidade terão forças para levedar a sociedade com o fermento do Evangelho, se converterão em luz em meio a tantas trevas, serão como o sal que tempera e conserva a vida humana, a vida do planeta e a dignidade de todas as pessoas.

O Texto Base da CF 2024 nos indica que as estacas são “os fundamentos da fé que não mudam, mas podem ser deslocados e colocados em terrenos sempre novos, acompanhando o povo que caminha na história. […] É assim que muitos imaginam a Igreja: uma morada ampla, mas não homogênea capaz de dar abrigo a todos, mas aberta, que deixa entrar e sair (cf. Jo 10,9), e em movimento para o abraço com o Pai e com todos os outros membros da humanidade. Alargar a tenda exige acolher outros no seu interior, dar espaço à sua diversidade” (TB 124).

As cordas têm a finalidade de manter as lonas esticadas, de não deixar encolher nosso esforço de fraternidade, indicam também o testemunho de Jesus, dos Apóstolos, dos primeiros cristãos, de tantos santos e santas de Deus, de tantos mártires da caminhada que deram a vida pela causa do Reino. Os testemunhos são “cordas”, que nos firmam na prática dessa amizade social. Que “perante as várias formas atuais de eliminar ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras” (FT, 6) (TB 125).

Pistas de ação na linha pessoal, comunitária e social

Como pistas para o agir a CF 2024 aponta outros objetivos específicos: (5) ACOLHER os ensinamentos da Igreja sobre a fraternidade universal; (6) APROFUNDAR a compreensão da comunhão e da fraternidade para a paz em todas as situações da vida; (7) CONSCIENTIZAR sobre a necessidade de construir a unidade, superando divisões e polarizações; (8) ESTIMULAR a espiritualidade, os processos e as estruturas de comunhão na Igreja e na sociedade; (9) INCENTIVAR e PROMOVER iniciativas de reconciliação entre pessoas, famílias, comunidades, grupos (TB p. 7). Além disso o Texto Base (n. 128 a 130), nos indica uma variedade de pistas de ação na dimensão pessoal, comunitária, social:

Ações pessoais: rezar pela fraternidade e pela paz; cultivar a prática do perdão e da solidariedade; ser em todas as situações um agente de reconciliação e de paz; participar de iniciativas como “É tempo de cuidar”; “Pacto pela vida e pelo Brasil”; “Pacto Educativo Global”; “Economia de Francisco e Clara” etc; aprofundar estudo da bíblia e da Fratelli Tutti; descobrir formas criativas de trabalhar a CF…

Ações Comunitárias: Coleta Nacional da Solidariedade (Domingo de Ramos, dia 24/03) – 60% Fundo Diocesano; 40 % Fundo Nacional de Solidariedade – CNBB; alargar as ações de uma “Igreja em saída”; educar para o bom uso das redes sociais; praticar o ecumenismo e o diálogo inter-religioso; promover estudos da Doutrina Social da Igreja; capacitar para enfrentar os discursos de ódio; cursos da CF nas comunidades; reforçar os Grupos de reflexão; participar das iniciativas online da CNBB.

Ações Sociais: organizar, apoiar campanhas contra o racismo e os vários preconceitos; promover a democracia, a paz; popularizar a Justiça Restaurativa; fomentar as pastorais e movimentos que cuidam dos migrantes e dos que estão nas “periferias existenciais”; dar passos para o AMOR POLÍTICO.

A política é o mais alto grau da caridade, dar de comer a um desempregado é expressão de amor, mas assegurar o direito ao trabalho a muitos, é expressão intensa de amor porque os emancipa e os dignifica. A caridade política engloba a todos, mas “o núcleo do autêntico espírito da política” é o “amor preferencial pelos últimos”, na construção da cultura do diálogo, da reconciliação e da paz, a favor do bem comum e a promoção dos mais pobres (cf. TB 21). A partir dos últimos construir fraternidade universal que abrace a todos, sem discriminação, pois “somos todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8).

Desde às suas origens, há 60 anos, a CF é uma ação evangelizadora da Igreja do Brasil, uma expressão de unidade e de Pastoral de Conjunto. Ela visa atingir a consciência e a vida dos cristãos, fazendo-lhes retornar ao coração do Evangelho. A cada Quaresma, a CF nos faz atualizar o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, contemplado em uma realidade ou situação, que nos chama à conversão. Somos chamados a contemplar o rosto de Cristo crucificado no rosto dos sofredores de hoje. A CF é o “modo brasileiro de celebrar a Quaresma”, buscando uma conversão pessoal, comunitária e social. Ela não esgota a Quaresma, mas aponta uma urgência de conversão para toda a Igreja. Por isso ela é aberta a todos os cristãos e às pessoas de boa vontade.

Para refletir: O que podemos fazer para alargar nossas ações de Amizade Social a nível comunitário e social?

Denilson Mariano

F/ Revista O Lutador

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