A universalidade do amor cristão e a exigência política

“Eram unidos e colocavam em comum todas as coisas…” (At 2,44)

O Papa Francisco ensina: “Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendo-lhe comida, mas o político cria-lhe um emprego. Por isso, insisto que ajudar os pobres com o dinheiro deve sempre ser um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo deveria ser sempre proporcionar-lhes uma vida digna através do trabalho.” É o conhecido ditado: “pra matar a fome, é melhor dar o anzol e ensinar a pescar do que dar o peixe”, mas se o local de pesca estiver cercado não adianta saber pescar. É preciso, primeiro, ter livre acesso ao pesqueiro e preservar a vida das águas. Aí entra a política, a ação pelo bem comum, para que ninguém passe necessidade.

O Papa nos chama a participar da política com “o objetivo de organizar e estruturar a sociedade”, para que as instituições do Estado – que é o campo próprio da Política – funcionem de modo tal “que o próximo não se venha a encontrar na miséria”. Neste ponto, Francisco une claramente Caridade e Política: para que nosso próximo não caia na miséria, é preciso que o Estado o proteja da ganância do sistema capitalista. Criar, defender e implementar políticas públicas que promovam a distribuição de bens e não deixem pessoas desvalidas na miséria são formas sublimes de Caridade, já diziam os Santos Paulo VI e João Paulo II.

O Papa nos convoca a lutar contra a desigualdade, o desemprego e outras violações dos Direitos Humanos, e propõe seus três “Ts”: nenhum camponês sem Terra, nenhuma família sem Teto e nenhum Trabalhador sem direitos. A solidariedade é a força motora da história, capaz de acolher todos os homens e mulheres, e todas as espécies vivas numa grande e maravilhosa comunidade.  Mas isso não se faz por milagre, e sim pela atuação constante e conjunta dos movimentos populares. Por isso é tão importante a participação dos cristãos e cristãs na Política, por meio de Partidos, Sindicatos e Movimentos Sociais. Política não se faz apenas no momento eleitoral, mas também no dia a dia da comunidade local, na participação em manifestações públicas e em todos os espaços da vida coletiva.

A finalidade da política é cuidar do Bem Comum. Diferente dos bens individuais, os bens comuns pertencem a uma coletividade, para uso comum. A política tem obrigação de defender os bens comuns e cuidar do Bem Comum. A política deve ser tratada como Ciência porque realidade na qual vivemos é muito complicada e seu conhecimento exige a contribuição de ciências específicas, como a Ciência Política, a Sociologia, a História, a Filosofia, a Ética e outros ramos do saber. Mas isto não quer dizer que só quem passou pela universidade pode fazer política. Qualquer pessoa pode e deve, desde que tenha bom senso e princípios éticos. É o caso de tantos pequenos agricultores, operários e indígenas que se tornaram grandes políticos na história do Brasil..

A política deve ser tratada como Arte porque ela é a prática do fazer bem feito. Ela coloca em prática aquilo que é desejo coletivo. Isso implica obrigatoriamente em tomar decisões, fazer opções, definir prioridades. Quem faz política, tem que optar, tem que assumir alguma/s prioridade/s. E o critério será sempre o maior bem comum. Na teoria isso é claro, mas nas situações práticas nem sempre é fácil distinguir o que é o bem do meu bairro, da minha cidade, da minha Igreja, do meu grupo ou Partido, e o que é o bem de todos, o verdadeiro Bem Comum. Por isso é tão importante a Democracia: ao dar vez e voz ao maior número possível de pessoas que compõem uma coletividade, ela tem mais possibilidade de definir o Bem Comum do que vozes isoladas, por mais iluminadas que elas aparentem ser.

Texto adaptado da Cartilha Encantar a Política – CNBB

 

Seja o primeiro a comentar

Deixe uma resposta