CF 2024 ILUMINAR: “Somos todos irmãos e irmãs”

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Continuando a reflexão em torno da CF 2024, passamos ao momento do deixar-nos ILUMINAR pelo Evangelho que nos une como família e resgata o sentido das relações humanas baseados no respeito e na reciprocidade do bem comum.

Aproximar fé e vida, oração e ação

A comunidade de Mateus nos mostra que Jesus denuncia a hipocrisia (falsidade) dos doutores da Lei, que pregavam a Palavra, mas não a praticavam; impunham fardos pesados nas costas dos outros, mantinham uma aparência de tremendamente religiosos, mas eram vazios por dentro (Mateus 23,1-12). Eram muito preocupados em ocupar os primeiros lugares nas práticas religiosas e sociais, mas instrumentalizam a fé para os seus interesses pessoais. Havia uma distância enorme entre o que era anunciado e o que era vivido por eles. Tornaram-se falsos pastores, falsos profetas, pois não uniam palavra e ação, fé e vida, oração e ação. Falavam uma coisa e viviam outra. Por isso, Jesus orienta a seguir o que eles ensinavam, mas não viver como eles viviam.

O Texto Base da CF 2024 (TB) nos aponta que “a Lei do Senhor jamais deixará de ser caminho de vida, mas a interpretação dos fariseus e dos escribas impõe, em seu nome, indiferença, confronto e conflito: sinônimos da morte” (TB 89). “O que incomoda Jesus é o fato de que, no caso dos escribas e fariseus, suas obras são apenas aparências, e a Palavra de Deus utilizada como mero adereço” (enfeite) (cf. Mt 23,5-6) (TB 90).

A Palavra de Deus, a Religião Cristã, a Igreja são apelos à nossa conversão, indicam a necessidade de nos colocarmos no seguimento a Jesus, visam conformar o nosso modo de ser e de viver com a pessoa de Jesus: “Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus” (Fl 2,5). Ele é o nosso único e verdadeiro mestre. N´Ele é que nos tornamos irmãos e irmãs e esse é o caminho para a vivência da fraternidade (cf. TB 91, 92, 93).

O projeto do Reino de Deus é a fraternidade

“Todos vós sois irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8); e ainda: “Eis minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,49-50). Somos chamados a viver e testemunhar a fraternidade no mundo. Porém o mal, que penetra e cresce em nossa sociedade, tem suas raízes na quebra da fraternidade.

Quando ignoramos o irmão, o pobre, o faminto, o sofredor… nos afastamos de Deus. Por sua vez, quando nos reconciliamos com os irmãos, experimentamos a alegria da reconciliação, a nossa volta para Deus, Ele mesmo vem ao nosso encontro (TB 100). Na parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32), o pai reafirma a alegria da volta do filho perdido e o reconduz à dignidade de filho, à plena fraternidade, mas encontra resistência da parte do filho mais velho. A prática da fraternidade exige conversão da mente e do coração.

A CF 2024 tem ainda, como objetivo específico, (3) “IDENTIFICAR iniciativas de comunhão, reconciliação e fraternidade, capazes de estimular a cultura do encontro” (TB p.7). O Texto Base nos recorda que “não há santidade no ódio, na indiferença, na exclusão. A santidade só se manifesta na fraternidade, na amizade sem fronteiras, para além dos nossos gostos, afetos e preferências, abrindo-nos ao outro, por mais repugnante que ele nos pareça, como era o leproso para o jovem Francisco de Assis, no processo de sua conversão […]: “o Senhor concedeu a mim, começar a fazer penitência: porque, como estava em pecados, parecia-me por demais amargo ver os leprosos. E o próprio Senhor me conduziu para o meio deles. E eu fiz misericórdia com eles. E aquilo que me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do corpo” (TB 116).

Redescobrir a Amizade Social

A CF 2024 tem como um dos seus objetivos específicos (4) “REDESCOBRIR, a partir da Palavra de Deus, a fraternidade, a Amizade Social e a comunhão como elementos constitutivos de todo ser humano” (TB p.7). Mas, o que é Amizade Social? Essa é uma das contribuições do Papa Francisco aos ensinamentos da Igreja em sua Exortação Apostólica: Fratelli Tutti (“Todos Irmãos”). Nela o Papa apresenta a fraternidade aberta, baseada na Amizade Social e no amor político, tendo o diálogo como caminho necessário para a cultura do encontro.

Amizade Social é o “amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço” (FT, 1); É “uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independente das sua proximidade física (FT, 1); É “comunicar com a vida o amor de Deus, recusando impor doutrinas numa guerra de ideias”; “é viver livre do desejo de domínio sobre os outros” (FT, 4); É  “o amor que se estende para além das fronteiras” (FT, 99), “a todo ser vivo” (FT, 59) (TB 16);

Amizade Social é “o amor que rompe as cadeias que nos isolam e separam, lançando pontes formando uma grande família que sabe de compaixão e dignidade” (FT, 62); é a nossa “vocação para formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros” (FT, 96); é “a capacidade diária de alargar o meu círculo de amizade, chegar àqueles que espontaneamente não sinto como parte do meu mundo de interesses, embora se encontrem perto de mim” (FT, 97); Amizade Social é aquela que não exclui ninguém é a “fraternidade aberta a todos” (FT, 94) (TB 16).

Que nesse caminho quaresmal possamos reforçar a amizade entre os membros de nossa comunidade de fé e nossa comunidade de convivência no dia a dia. Sejamos uma expressão viva da amizade querida e vivenciada por Jesus com seus discípulos. Ele nos faz seus amigos para que possamos recriar o sentido da amizade: ser capaz de “acolher a todos, todos, todos”. E essa amizade não está apenas na linha do amor-afeto, mas sobretudo na linha do amor-atitude como se expressa na Carta de Paulo aos Coríntios: ser paciente, prestativo, não invejoso, não orgulhoso, sem ira, sem rancor, capaz de alegrar-se com a justiça, com a verdade, de perdoar, de suportar… por amor, pois “o amor jamais passará” (cf. 1Cor 13,1-13).

Para refletir: O nosso amor a Deus tem sido confirmado ou negado no encontro com os irmãos mais sofridos?

Denilson Mariano

F/ Revista O Lutador

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