Magda Melo
A história da humanidade traz, desde o início de sua constituição, o traço da violência, forjada por meio da subjugação e da exploração. A questão da mulher é uma questão de toda a humanidade. Tal afirmação poderia parecer extremamente pretensiosa se não procurarmos entendê-la em seu sentido exato. Poderia parecer uma redução de todos os grandes problemas atualmente vividos pela humanidade a um único problema. Entretanto, não é essa pretensão que nos anima.
No que se refere à questão da explicitação da chamada inferioridade da mulher, propomos uma reflexão sobre o símbolo Eva, a mãe dos viventes, da qual todos os humanos dependem.
Exorcizar, vencer o medo
Gostaria de propor a apreensão na própria constituição do humano de uma espécie de medo simbolizado e sintetizado na figura da mulher. Exorcizar esse medo falando dele e tirando algumas consequências advindas para a história da humanidade, especialmente da cristandade.
A mulher foi assimilada à fraqueza da carne, à sensualidade, à volúpia, à tentação, ao pecado, enfim, considerada um ser humano pela metade. Alguns chegaram a afirmar que a mulher era um semi-homem, ou um homem pela metade. Perguntamos:
Por que em torno da mulher se produziram tais comportamentos? Por que ela os acolheu como um “destino” e foi de certa forma cúmplice na reprodução desses comportamentos? Qual a racionalidade que rege tais comportamentos, mesmo se nossa consciência hoje os repudia?
Suspeito que esse comportamento milenar, “produzido” culturalmente em relação à mulher, se deve à percepção profunda de seu poder como mãe dos viventes. Nessa perspectiva, a mulher é símbolo de algo mais do que ela mesma. Ela é mais que o segundo sexo aparentemente frágil e desprotegido. Ela é um símbolo maior para a humanidade, homem e mulher.
A humanidade, em sua expressão feminina, faz aparecer mais fortemente as forças da vida, imensas, obscuras, indomáveis, sedutoras, ora silenciosas, ora estrondosamente barulhentas, escapando de certa forma ao controle da razão. Essa força vital de atração e medo é simbolizada na figura da mulher, como se nela fosse representado de certa maneira o caos. É como se o ser humano escolhesse uma parte de si mesmo e a combatesse pelo temor que sua grandeza lhe inspira.
É como se para fugir-lhe armasse razões, tecesse redes, construísse mitos, elaborasse discursos para exorcizar, através da negação, o medo de seu poder. O útero escuro, primeiro espaço de vida em conjunto, a profundeza da terra fértil, as grandes águas, o leite que alimenta, o sangue que corre, o regaço que acolhe e protege, seduzem e amedrontam ao mesmo tempo.
E para exorcizar o medo que se avoluma, “gigantes” se erguem, armados para o combate contra a terrível inimiga que nada mais é que uma parte de si mesmos, recusada porque fundamentalmente temida e desejada. Então, as partes do humano começam a combater entre si e nascem as partes aparentemente vencedoras e as partes vencidas.
A vida de um é a vida da outra
Nessa condição de luta, ambas se alienam de sua realidade própria, absolutamente dependente uma da outra, e, mais ainda, realidade em que uma é outra. Ambas se excluem acusando-se mutuamente sem se perguntarem o que esse combate representa na profundidade do ser humano. Esquecem-se de que a vida de um é a vida da outra, e reciprocamente.
Todas as mulheres tornaram-se Eva, responsáveis pela corrupção inicial da humanidade e, em parte, pela origem do mal. Por isso, homem e mulher temem aquilo que a mulher representa, mesmo que, como dissemos, historicamente a mulher tenha sofrido mais as consequências do exílio e desprezo em que sua própria imagem a aprisionou. Isso nos faz compreender por que, para grande parte das tradições judaicas e outras, nascer mulher é uma maldição.
Todo preconceito de qualquer natureza ele existe por falta de conhecimento, ouvimos por aí e não buscamos saber a verdade, não lemos, não temos consciência do que está acontecendo, ouvimos e saímos falando, vamos sempre atrás.
Temos que ter conhecimento até de Deus. Só podemos viver Deus se conhecermos Deus, até Jesus nós só o teremos na sua vida, na pratica da vida, quando o conhecermos. Nós só poderemos amar o outro quando conhecermos a nós mesmos e conhecermos o outro.
Parabéns a todas as mulheres! Forca, garra, determinação e compromisso com ternura e amor.
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